Muitos autores apontam para o adoecimento docente cada vez mais presente na realidade brasileira. As longas jornadas, os baixos salários, a falta de recursos e as más condições de trabalho, entre elas a violência psicológica e mesmo física, são alguns dos inúmeros fatores que influenciam a prática do professor, ocasionando doenças e síndromes que afetam tanto a saúde física quanto a saúde mental e emocional desse profissional. E este problema não é só vivido por professores, mas pela sociedade de um modo geral, o que significa que o que proponho, neste artigo, se aplica não apenas aos professores, mas a todo o nosso público alvo: os educadores, que têm um papel essencial na nossa sociedade: o de prepararem nossas crianças para assumirem seu lugar no mundo. Nos dois artigos anteriores, falamos da importância de estimular a capacidade resiliente dos nossos pequenos. Desta vez, vamos analisar possibilidades de desenvolver também esta capacidade nos educadores.
Considero fundamental que aqueles que atuam com a criança possam preservar o seu equilíbrio e sua capacidade de lidar com as situações adversas que envolvem a todos nós, superando os entraves do caminho. Primeiro, porque cada um de nós precisa ter qualidade de vida; segundo, porque de nós depende a qualidade de vida e o bom desenvolvimento dos nossos pequenos.
Pensando nisso, trago algumas sugestões que podem contribuir para esse equilíbrio e trazer bem-estar, isto é, que podem nos ajudar a estimular em nós a habilidade de superar as dificuldades e prosseguir – a resiliência. Vale relembrar que isso não significa sair ileso, pois não somos super-heróis, todos nós temos vulnerabilidades. Não significa ser forte e invencível ou ter nascido resiliente ou não. Significa investir nessa capacidade que pode ser desenvolvida e aprender como fazê-lo.
As sugestões trazidas vêm dos conhecimentos teórico-práticos que adquiri ao criar, aplicar e pesquisar, por mais de vinte e cinco anos, a Bioexpressão. Vale contar aqui que a Bioexpressão é fruto da minha história de vida pessoal e profissional, das dores e das pedras encontradas ao longo da minha caminhada que interferiam na totalidade da minha existência, das experiências vividas em sala de aula para superar as adversidades e de muitos estudos realizados como o do meu doutoramento. É fruto da vontade de levar a outros educadores e a meus alunos as saídas encontradas. Por que conto isso? Porque não estou falando apenas de algo que aprendi nos livros, mas de algo que vivenciei, que alunos da Educação Básica e do Curso de Pedagogia experienciaram, que orientandos de mestrado e doutorado pesquisaram com resultados significativos como o caso de Jaqueline Madeira, com quem escrevi três artigos de Educação Emocional da Criança para este site. Falo de algo que tem me ajudado, assim como a outros educadores, jovens e crianças, a serem mais resilientes.
Fundamentada na teoria de Wilhelm Reich e seus continuadores, a Bioexpressão é um conjunto de conhecimentos e vivências corporais que têm a finalidade de estimular a autopercepção, o autocuidado e maior conhecimento de si, tendo por base atividades corporais. Trabalhamos com mais ênfase o corpo, mas nossa corporeidade está sendo trabalhada de forma integrada – cognição, afetividade, motricidade, relações e espiritualidade. E apresento algumas sugestões que são simples e que podem ser executadas diariamente e que se mostram como possibilidades de liberar tensões, aumentar o fluxo de energia, tranquilizar os pensamentos agitados que não nos dão muito sossego. Como nossas mentes são tagarelas, não é mesmo? Acalmá-las é fundamental. Assim como permitir que nossa energia possa fluir por todo o nosso organismo. Pensamos muito e ficamos reféns de nossos intermináveis ou repetitivos pensamentos, muita energia se gasta com tanto que pensamos sem nos levar a nada. Gosto muito da imagem que Yvonne Bergé usa: o cérebro se empanturra, mas o corpo permanece esfomeado. É importante frisar que nossa energia pode facilmente se dispersar se pensamos em mil coisas ao mesmo tempo. Ter foco é fundamental para canalizá-la e utilizá-la com mais eficiência. Quantas vezes, já na rua, saindo de casa, nos perguntamos se fechamos a janela, pois parece que vai chover, e se desligamos o ferro de passar roupa que usamos às pressas. Fazemos tudo de forma tão automática que não nos damos conta do que fizemos ou deixamos de fazer. Este é o nosso famoso piloto automático. Lembram?
Investir em si mesmo, buscando possibilidades de lidar com o estresse e os desafios diários, contribui para que o autoequilíbrio seja mantido e, para isso, é necessário preservar um tempo para diminuir nosso ritmo, liberar pressões, renovar o quadro mental, descansar, desligar de problemas para permitir que o processo natural de autorregulação do nosso organismo possa ocorrer (daqui a pouco falaremos disso). Aí, vocês vão me perguntar: mas como conseguir isso? Sei que nem sempre é fácil, mas é necessário, pois significa mais vitalidade e saúde, e, em pouco tempo, sentiremos os resultados.
Na verdade, deveríamos começar com alguma forma de movimento que liberasse mais facilmente os excessos de nossa mente e das nossas emoções. Mas como sei que é mais difícil, vou começar por aquilo que você pode fazer exatamente agora que lê este texto. O primeiro passo é respirar de forma consciente. E uma boa puxada de ar e um bom suspiro ou um sopro do máximo de ar que esvazie os pulmões pode marcar o início do processo, o que, muitas vezes, o corpo, em sua sabedoria, nos induz a fazer naturalmente.
A respiração consciente acalma, relaxa, ajuda a restabelecer o equilíbrio físico, mental e emocional, aumenta o nível de bioenergia, de foco, ou seja, nos ajuda a nos centrarmos. Como se diz popularmente, nos ajuda a “voltar para a casinha”, isto é, para nós mesmos, nossa primeira casa. Além de tudo isso, contribui para o autoconhecimento, pois, quando nos voltamos para nós, podemos perceber melhor os avisos que nosso corpo nos envia todo o tempo. Respirar bem é fundamental para o bom funcionamento do metabolismo humano, porém, as tensões do dia a dia fazem com que tenhamos uma respiração curta e superficial.
Respirar profunda e relaxadamente aumenta o senso de concentração. Também não podemos esquecer que, ao reequilibrarmos a respiração, estamos reequilibrando a energia emocional. Através da respiração profunda há aumento da carga energética, o que significa, literalmente, que o corpo ganha mais vida. Reich enfatiza que o oxigênio fornece a energia que move o organismo, logo, quando a respiração é inadequada, o nível de vitalidade do organismo tem uma queda sensível. Respirar é equilibrar a pulsação vital, o que significa equilibrar todo o organismo.
Pode-se trabalhar a respiração simplesmente prestando-se atenção a ela, sem nada fazer, sem nada forçar, simplesmente respirando e percebendo o movimento de entrada e saída do ar, o que já altera o ritmo e a profundidade respiratórios. Experimente agora, observando sua inspiração e expiração, soltando bem seu corpo. Mas também podem ser utilizadas atividades orientadas. O importante é que todos os exercícios respiratórios devem ser feitos de forma relaxada e consciente, dando uma pausa entre a inspiração e a expiração, respeitando o próprio tempo. Essa pausa permite melhor absorção da energia que se encontra no ar. É importante estar consciente também de que a respiração é uma forma eficaz de relaxar e energizar-se, e que deve receber nossa atenção em qualquer atividade.
Aproveite para fazer isso antes de dormir para relaxar, enquanto “conta até dez” para não dizer uns desaforos a alguém, na fila do banco, na sala de espera do médico, antes de iniciar uma atividade que exija sua total atenção, antes de enfrentar situações ou pessoas difíceis… Nunca me esqueço de que estava tão nervosa antes da prova de seleção para o mestrado, que ao ler as questões, “tive um branco”, não sabia nada e entrei em pânico. Lembrei da respiração e, durante alguns minutos, fechei os olhos e permaneci respirando. Aos poucos, o coração voltou a bater mais tranquilo e fui me acalmando. Relendo as questões, vi que sabia respondê-las sim, tendo sido aprovada.
Uma dica importante: use a respiração consciente no seu dia a dia para que se torne um hábito saudável. Se deixar para usar em uma situação de emergência, será mais difícil se entregar a ela. Muitas vezes, não podemos mudar o que nos cerca, mas podemos mudar a forma de lidar com as situações.
No próximo artigo, trarei mais reflexões e sugestões para que você possa se cuidar com carinho. Com certeza, se nós estivermos mais equilibrados, nós e nossos pequenos seremos mais beneficiados.
Se tiver alguma dúvida em relação ao que foi apresentado, se algo não ficou claro, se tiver sugestões ou quiser fazer comentários, entre em contato conosco através do espaço abaixo no próprio site. Sua participação é sempre muito bem-vinda e significativa.
As fotos utilizadas são da dissertação de Cíntia Lúcia de Lima e foram tiradas nos encontros de Bioexpressão do Curso de Pedagogia.