Dando continuidade ao texto sobre a alta sensibilidade, hoje falamos de ser e viver a alta sensibilidade como adulto. Ou como define Karina Zegers de Beijl em seu primeiro livro – ser um adulto que vive desde o (do) coração.
PAS – pessoas altamente sensíveis crescem com as mesmas quatro principais características ou pilares descritos anteriormente – alta capacidade de percepção sensorial, muita capacidade empática, grande capacidade reflexiva e necessidade de momentos de solidão, ainda que possam ter algumas destas características mais desenvolvidas pela experiência, e outras melhor utilizadas pela capacidade de desenvolver estratégias para lidar com elas de uma forma mais adequada. Também apresentam grande capacidade intuitiva, criatividade, integração total com seu trabalho e amizades. Processam todo tipo de informação com mais detalhes, e de forma mais elaborada, classificando tais informações com mais precisão. Elaine Aron deixa claro em seu livro que é um traço genético, herdado e neutro. Ou seja, que tem vantagens e desvantagens como quase todas as características humanas. Porém, no caso da sensibilidade, o problema é como a cultura em que se vive considera estas características. Por exemplo, no Japão, na Suécia e nas culturas orientais são características valorizadas. E aqui?
A vida na infância e a aceitação da família destas características são fundamentais para definir como essa pessoa vai crescer, aceitar e conviver bem ou não com a sua sensibilidade. Uma parte importante dos PAS sofre de problemas de autoestima, excesso de perfeccionismo e os acompanha uma sensação continuada de não se encaixarem em nenhum lugar, geradas pelo esforço de se adaptarem.
Dá-nos a impressão de que as PAS nascem com um código moral e de valores já aprendido, como se já soubessem antes o que é correto, e costumam sofrer por não entenderem o que se passa, e com as escolhas, contradições e mentiras dos que as cercam e que são capazes de perceber desde pequenas. Sentem-se vulneráveis frente a um mundo cada vez mais rápido, mais confuso, e costumam confundir-se com o exterior, sentindo-se habitualmente como o espaço ao seu redor. Muitas pessoas PAS se sentem inadequadas, imperfeitas e passam a vida lutando com seus conflitos. E o intento de se adaptarem, se sentirem e perceberem o mundo como os demais o sentem pode levá-los a desenvolverem transtornos psicológicos, depressão, ansiedades e até somatizações, que são muito comuns.
E a pergunta é… Por que ter características tão positivas e necessárias ao mundo atual, quase sempre gera tanto sofrimento? Acredito que, primeiro, por verem e sentirem, de uma forma diferente e minoritária. As mensagens que recebem desde pequenos podem lhes dar a sensação de que esta forma de sentir é incorreta ou demasiado complexa e, às vezes, pouco útil. Segundo, pela intensidade das vivências. O mundo está muito rápido, quando o que os PAS necessitam é tranquilidade; há muito egoísmo, quando os PAS necessitam união. O sofrimento está quase sempre dado pelo contraste de sua forma de viver, pensar e sentir e os valores transmitidos pela sociedade, educação e algumas vivências lhes são desagradáveis e se chocam com sua maneira de ser.
A primeira aprendizagem é a autoaceitação. Saber que é um traço de personalidade herdado, com vantagens e desvantagens, não é uma patologia. Aprender a usar e canalizar esta sensibilidade pode ser um grande presente. E, para isso, o autoconhecimento é fundamental tanto para tirar partido das vantagens, como para aprender a gerenciar o estresse e as situações que não podemos mudar ou controlar. É necessário equilibrar o excesso de estímulos, aprender que as diferenças se complementam, que podemos aprender com o outro e com outras formas de ver as coisas. Podemos, e devemos todos, desenvolver a tão necessária RESILIÊNCIA. E, principalmente, aceitar que as outras pessoas não têm que pensar e sentir como nós. Aceitar o outro também é importante nesse processo.
A sensibilidade também permite poder desfrutar mais, muito mais do silêncio, da natureza, da arte, da música e da capacidade que temos de viver desde o (do) coração. Meu conselho? Desfruta da alegria de ser altamente sensível, de ver, sentir e viver desde o (do) coração. Um privilégio!!
Você quer saber mais? Leia os livros da Elaine Aron (The highly sensitive person), e Karina Zegers de Beijl (La alta sensibilidade: Vivir desde el corazón, Personas Altamente Sensibles).
Jaqueline Marilac Madeira é Psicóloga com especialização em Educação Emocional e Alta Sensibilidade. Doutora em Psicologia pela Universidad de Oviedo (Espanha).
Se você não leu o texto anterior, vale ler, as características das PAS estão mais explicadas. Se quiser saber mais sobre Resiliência e Educação Emocional, você também encontrará textos sobre o assunto em postagens anteriores, tanto voltadas para a criança quanto para o adulto.
Suas perguntas, opiniões e comentários são sempre bem-vindos. Use o espaço abaixo, e lhe responderemos assim que possível. Grande abraço e até o próximo artigo!
Lucia Helena
Queridos leitores,
Como está dito no início do texto anterior, ao qual este dá continuidade, a sua autoria é de Jaqueline Madeira, tendo cabido a mim apenas sua tradução. Muitas vezes, não me senti segura para responder às perguntas feitas, tendo enviado à psicóloga Jaqueline, especialista em alta sensibilidade, as questões formuladas, para serem respondidas diretamente por ela. Assim, peço que se desejarem maiores esclarecimentos, no caso específico deste artigo, acessem o seu site, entrando em contato direto com ela: https://www.jmmadeira.com
Agradeço a compreensão e os recadinhos enviados, lamentando nem sempre poder responder às questões formuladas.
Grande abraço
Lucia Helena
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