A autoridade é essencial para os educadores sejam eles pais, professores ou outros responsáveis pela criança ou adolescente, afinal, cabe a eles a tarefa de educar e formar cidadãos conscientes, que possam conviver socialmente e se desenvolver como individualidades. Como analisamos nas duas ultimas publicações, em que discutimos a necessidade de estabelecer limites, a autoridade é fundamental para que as crianças – futuros jovens e adultos – tenham uma vida pessoal e profissional mais integrada, responsável e feliz.
Quando falamos em autoridade não nos referimos apenas à obediência, mas, principalmente, ao respeito e à aceitação dessa autoridade, fruto da coerência entre as ordens dadas pelos educadores e sua forma de agir. É importante enfatizar que, no processo educativo, autoridade e afeto devem caminhar juntos. Afeto e autoridade não se excluem, ao contrário, se fortalecem.
Temos muitos medos, entre eles o de perder o controle das situações, de termos nosso poder colocado em xeque, de deixar que nossas fraquezas se mostrem, enfim, de que nossa humanidade seja desvelada. Esquecemos, muitas vezes, que a verdadeira autoridade é conquistada e não imposta. Ela é conquistada pelo respeito que temos por nossos filhos e nossos alunos, e que estes têm por nós; pelo comprometimento que assumimos com nossa família e com nosso trabalho.
Quando pensamos nas relações entre professores e seus alunos, este medo se mostra mais acentuado. Em minha pesquisa de doutoramento, percebi isso com muita clareza. Nos seus depoimentos, alguns professores participantes deixaram claro que se manterem distantes e evitar o envolvimento afetivo era uma forma de preservar sua autoridade e serem respeitados. Este é um dos mitos que povoam o imaginário de muitos professores. Lembro-me de minhas aulas de didática quando fiz a graduação. Nossa professora nos dizia: “Nada de ficar rindo para o aluno e de se aproximar muito, isso o faz perder o respeito por vocês”. Entretanto, comprovei, na minha própria experiência, que isso é totalmente falso em qualquer nível de escolaridade. Sempre mantive uma relação de afeto com meus educandos na educação básica e no ensino superior, nunca tendo problemas com isto; muito pelo contrário. O que gera respeito de nossos alunos por nós é a seriedade do nosso fazer, a nossa competência, o nosso empenho em fazer um bom trabalho, o senso de justiça; enfim, o estar envolvido com a docência e com o crescimento discente.
A autoridade difere bastante do autoritarismo, e enquanto aquela é indispensável, este deve ser evitado, pois seus efeitos podem ser bastante negativos. Educar é impor limites, o que, facilmente, gera frustrações. A criança não pode fazer tudo o que deseja para que riscos sejam evitados ou para que a aprendizagem do respeito ao outro seja desenvolvida, o que deve ter início na idade mais tenra. Uma criança não pode brincar na cozinha, onde há o perigo de se cortar ou se queimar, e também não pode morder o coleguinha ou lhe arrancar seu brinquedo, iniciando o aprendizado da convivência social. Naturalmente ela precisa ser reprimida, mas não de forma violenta ou agressiva, com o uso de palavras desqualificadoras ou ameaças.
Pais e professores autoritários são intransigentes, inflexíveis, ditam as normas sem aceitar o diálogo, impondo suas vontades. Não sabem escutar e não aceitam argumentos. Qualquer alegação pode ser vista como desrespeito ou desobediência. Inspiram mais temor que respeito. Já os pais e professores que conquistam a verdadeira autoridade são abertos ao diálogo, sabem ouvir, respeitam outros pontos de vista, podendo aceitá-los ou não. Não lhes cabe o título de “bonzinhos” ou de “durões”, pois sua intenção é agir de forma a serem justos e coerentes, a agirem com rigor quando for o caso, sem se permitirem congelar na rigidez. É serem capazes de não se deixarem cair nos opostos: no autoritarismo ou na permissividade. Pais e professores permissivos cedem mais às vontades das crianças e são mais desatentos a suas ações, exercendo pouco controle, tendo um nível mais baixo de exigência e inconstância na aplicação de regras. Como qualquer postura extremada, tanto o autoritarismo quanto a permissividade não geram bons resultados. Um dos pontos abordados na publicação anterior foram os prejuízos causados pela falta de limites, ou seja, pela permissividade, e são muitos e bastante sérios.
Estabelecer o diálogo com as crianças é fundamental. Não se trata simplesmente de falar com elas, mas de ouvi-las, especialmente a partir dos três ou quatro anos, quando já conseguem argumentar. Se a criança está em meio a uma emoção mais forte, acolhê-la e ajudá-la a compreender seu descontrole pode ajudá-la a entender suas reações e sentimentos. Este é um caminho significativo para o autoconhecimento (inteligência intrapessoal) e a educação emocional. Através de perguntas e afirmações, ir levando-a a refletir sobre suas ações: “Por que está tão zangada? É por que lhe tirei o celular? Não gostei quando pegou meu celular sem autorização. Também fiquei zangado. Você acha que tal atitude vai ajudar em alguma coisa?”.
A opção pela rigidez educacional ou autoritarismo de muitos pais se deve, provavelmente, a acreditarem que esta é a forma correta de educar suas crianças. Entretanto, os estudos que vêm sendo apresentados por especialistas dessa temática mostram que não é bem assim. Uma educação muito rígida ocasiona baixa autoestima, perda da autonomia e problemas de comportamento.
A baixa autoestima resulta da ausência de diálogo que traz a percepção à criança de que não é ouvida pelos seus pais e de que o que pensa ou sente não importa.
A criança aprende o que vivencia. Se cresce com gritos, aprenderá a gritar para conseguir o que quer; se é agredida fisicamente e/ou com palavras rudes, ela aprenderá a bater e dizer desaforos; a ser agressiva. Se o que pensa for respeitado e aceito quando possível, aprenderá a se sentir bem consigo mesma. Mostrar falhas e aspectos que devem ser mudados pode ser feito com seriedade e afeto.
Yves de La Taille observa que a criança que não aprende a interagir e fazer escolhas não desenvolve habilidades sociais fundamentais para o momento atual como o relacionamento interpessoal e a tomada de decisões. Acrescento que tais habilidades são essenciais para a inteligência emocional, sobre a qual já falamos em outros artigos. La Taille observa ainda que a baixa autoestima causa a perda de confiança em si, o que pode gerar a sensação de fracasso ao longo da vida.
Habituada a imposições que lhe dizem o que e como fazer, não é difícil perder o senso de responsabilidade pela própria vida, tornando-se submissas a chefes, líderes ou autoridades. Perde sua autonomia, correndo o risco de se tornarem pessoas que se deixam levar por outros.
Educar significa dar autorização para que nossos filhos e alunos aprendam a pensar e agir por si mesmos, a ganharem autonomia, por confiarem em nós, educadores, nos concedendo a autoridade que propõe um caminho, o que é bem diferente da postura autoritária.
Educar consiste em cuidar da relação para que se criem sentidos, sentidos estes que permaneçam vivos com a passagem do tempo, e que façam nossos filhos e alunos se sentirem, também, vivos.
Quando damos voz à criança, permitindo que percepções diferentes se manifestem, que não seja somente a voz da “autoridade” a dizer o que deve ser feito, vamos ensinando nossas crianças a se tornarem responsáveis por suas ações.
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