Resiliência e Bioexpressão: alguns arremates

Nos dois textos anteriores, trouxemos algumas definições e analisamos possibilidades de estimular nossa capacidade resiliente que desejo tenham podido ajudá-los a se sentir mais confortáveis em sua primeira casa – o seu corpo. A proposta deste texto é sintetizar o que vimos de forma a realçar os aspectos mais significativos dos dois artigos, complementando pontos citados.

A resiliência pode ser definida como a capacidade de passar por dificuldades e superá-las, mesmo que sejamos afetados por elas, pois não somos invulneráveis. Cada indivíduo tem sua própria maneira de lidar com as adversidades, assim, uma mesma causa estressora pode ser vivenciada de forma diferente por diferentes pessoas. Como vimos antes, a resiliência não é inata e pode ser desenvolvida em circunstâncias específicas. Também não é um atributo que se mantenha inalterável, pode se modificar dependendo das situações, tanto do nosso meio ambiente quanto do nosso mundo interno.

No decorrer da vida, uma pessoa pode se deparar com inúmeras situações que trazem uma forte carga de tensão que aumenta a probabilidade de vivenciar problemas físicos, emocionais e sociais. Desemprego, morte de um ser querido, separação, acidentes, doenças na família, e até outros menos traumáticos podem nos desestabilizar bastante, como lidar com problemas no ambiente de trabalho, a conhecida síndrome do ninho vazio com a saída dos filhos de casa, a aposentadoria, afastamento de um amigo próximo, dificuldades financeiras entre tantas outras circunstâncias das quais não temos como fugir. Se temos suporte emocional através da família, dos amigos, da nossa relação com a espiritualidade, lidar com os problemas pode se tornar mais fácil. E também podemos nos beneficiar de formas de cuidar de nós que possam nos fortalecer e equilibrar. Antes de relembrar e ampliar um pouco a listinha dessas formas de proteção aos riscos que todos nós corremos, quero trazer para vocês um conceito que trará maior compreensão de como agem essas formas de proteção: o de autorregulação. Apresento-a de maneira bem simplificada, apesar da sua complexidade, para que possam compreender um pouco mais a sabedoria de nosso organismo.

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Movimento livre expressivo

Autorregulação é um elemento central na teoria reicheana, base da Bioexpressão. É ela que permite a circulação energética no organismo e cria mecanismos de resposta às tensões do ambiente, modificando aspectos corporais e se adaptando às necessidades que surgem, atuando como forma de proteção. Entretanto, se esta circulação energética apresenta bloqueios (daí as sugestões dadas nos textos anteriores), as funções vitais sofrem alterações, havendo redução dessa capacidade autorreguladora. Para Wilhelm Reich, a autorregulação supõe a existência de uma espécie de competência espontânea, visceral, uma capacidade do próprio organismo, o que significa que um organismo saudável é um sistema regulado em si mesmo. Mais que permitir a volta ao estado de equilíbrio, a autorregulação permite um impulso para a mudança.

Autorregulação se relaciona à possibilidade de agirmos com autonomia e criatividade, respondendo adequadamente ao que a vida nos exige, gerando transformações. Isso, muitas vezes, pode significar não agir, esperar, se dar cuidado e atenção. Entretanto, não raro, estamos tão tensos, tão afastados de nós mesmos, de nossa corporeidade, tão paralisados pelo medo, pela insegurança, sem a percepção clara do que é realmente importante para nós, tão presos às exigências sociais e profissionais, tão embaralhados com os problemas, que essa capacidade de autorregulação de nosso organismo se perde. Não conseguimos ouvir que nosso corpo grita por socorro, que nossas emoções se chocam e não lhe damos atenção.

esticar-a-cordaEm textos anteriores, me reportei às dificuldades de respiração profunda, de relaxamento e de expressão das emoções; do mau uso do nosso corpo que gera tensões musculares, dificuldades espaço-temporais, desconhecimento de nós, dos sentidos mal trabalhados, da cenestesia embotada. Estas são também causas de nossa autorregulação não funcionar tão bem, pois este mau uso de si gera má distribuição do nosso fluxo energético. Imagine uma corda muito esticada, que sofre uma pressão maior do que pode suportar. O que acontece? Isso mesmo: arrebenta! Não é à toa que, muitas vezes, acabamos por adoecer.

Vale ainda relembrar o que José Tavares, estudioso da resiliência, apresenta como características resilientes: vínculos afetivos, autoestima positiva, flexibilidade, criatividade e autonomia. Outra característica que acredito ser fundamental e que é considerada por alguns estudiosos como um grande pilar da resiliência é o humor. Este tem múltiplas formas de se apresentar, mas sempre se mostra como um modo criativo e crítico de confrontar a adversidade. Volto a afirmar que acredito que o brasileiro é tão resiliente por ser capaz de fazer graça tanto a partir das coisas mais banais quanto das mais graves que afetam o país inteiro. Tirando as grosserias e o mau gosto, o humor  permite expressar o que incomoda com mais leveza, pode provocar boas risadas e, como diz o povo, “desopilar o fígado”. E a alegria é um excelente tônico para nos fortalecer. Humor e resiliência

Então, vamos relembrar as atividades que podem nos ajudar a lidar com as dificuldades, expandindo nosso fluxo de energia vital, ou seja, nossa vitalidade, trazendo-nos maior equilíbrio e bem-estar, além de estimular as características resilientes:

Respiração profunda consciente e meditação;

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Dança em espiral, variação da dança circular

Atividades artesanais, yoga, tai chi chuan ou danças circulares, entre outras, enfim atividades de cunho terapêutico e que são formas de meditação em movimento, pois nossa atenção está plenamente voltada para elas quando as executamos;

Massagens que podem ser realizadas por profissionais ou entre pessoas que tenham empatia e desejo de se cuidar e cuidar do outro;

Movimentos livres que permitam a entrega do corpo ao som de músicas que nos fazem bem e que convidam nosso corpo à expressão e muitas outras que estimulam nossa corporeidade.

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Massagem em duplas em um encontro de Bioexpressão

A música merece uma nota especial, pois ela favorece o desligamento dos ruídos externos, dos “barulhos mentais”. Anima o corpo em movimento, ajuda a eliminar zonas de resistência e leva o corpo a distender-se de forma mais instintiva, emocional. A música induz o corpo a abandonar a inércia, ajudando a superação de temores.

Nosso organismo é profundamente afetado pela música, que provoca mudanças biológicas como alterações nos batimentos cardíacos e na respiração; diminui a fadiga muscular, amplia o trabalho metabólico, a sensibilidade, facilitando o acesso a outras formas de estímulo e percepção. O sistema auditivo está diretamente conectado com o sentido do equilíbrio e da direção, do qual depende o controle dos movimentos.

Procure passar um tempo, sempre que possível, com pessoas de alto astral, alegres, de bem com a vida. Principalmente se já estiver para baixo, evite aqueles que adoram falar de doenças, que vivem de mau humor, que sempre têm um comentário azedo. E fale apenas de seus problemas com quem possa lhe dar apoio e/ou um retorno nutritivo.

As sugestões que apresento foram vividas por mim e por muitos participantes dos encontros de Bioexpressão, trazendo respostas positivas. Passamos a ter maior percepção de nós e do nosso entorno, nos dando a oportunidade de refletir e criar possibilidades para enfrentar os desafios aos quais somos expostos ao longo da vida e de investir em nosso processo de desenvolvimento da capacidade resiliente, o que contribui para uma melhora da qualidade de vida tanto pessoal quanto profissional.13770290_10204920654056500_2867686598932824908_n

Mas para que isso aconteça de fato, é importante fazer uma pausa, desligar o piloto automático, prestar atenção a você, se entregar ao vivido, ser tocado por ele, sentir seu corpo, ouvir suas emoções, deixar-se expressar, ter paciência e carinho com você, respeitar suas dificuldades (comece pelo mais fácil), persistir e se dar conta de que você pode ter um belo encontro com você mesmo(a) e que isso é muito bom e revigorante.

Se tiver alguma dúvida em relação ao que foi apresentado, se algo não ficou claro, se tiver sugestões ou quiser fazer comentários, entre em contato conosco através do espaço abaixo no próprio site. Sua participação é sempre muito bem-vinda e significativa.

As fotos utilizadas são de meu arquivo pessoal  e da web.

Grande abraço e até nossa próxima postagem, quando nossos pequenos reassumem seu protagonismo!!

Author

Lucia Helena Pena Pereira é pedagoga e doutora em Educação. Atua com palestras e oficinas para professores da Educação Infantil, compartilhando a experiência adquirida em pesquisas e em sala de aula na Educação Básica e no Ensino Superior.

Comments
  • 15-fevereiro-2017 at 10:10

    Olá Lucia Helena!
    Este artigo vem confirmar a nossa necessidade de olhar dentro de nós mesmos de forma mais ampla. Somos muito além de apenas um corpo físico. Somos energia, sentimos, ouvimos, emitimos vibrações e energias. Então podemos , a partir disso, refletir: o que estou emitindo? Qual a onda energética estou transmitindo para o ambiente em que estou neste momento? Sejamos transformadores energéticos de qualquer ambiente. O melhor de mim está dentro de mim mesma. Somente transmito aquilo que tenho em mim. Então vou procurar o melhor. Me conhecer melhor, descobrir as minhas sombras, fazer as pazes com elas e vislumbrar as minhas capacidades transformadoras de superação e criatividade. Os desafios da vida estão presentes, nem sempre podemos evitar, mas podemos mudar o nosso ponto de vista, buscar uma reflexão sobre o quê a vida quer que eu faça com isso em que estou vivendo agora? É um aprendizado, longo, leva tempo, é perene. Mas para quê ter pressa? Como diria o escritor Ricardo Azevedo, “tempo é um trem que não para na estação, é um passarinho que ninguém pega”!
    Ana Paula Ferreira – São João del-Rei – MG

    • 15-fevereiro-2017 at 13:12

      Querida Ana Paula,
      Que linda e profunda reflexão! Concordo plenamente com você. Precisamos cuidar de nós, de nosso corpo, emoções e pensamentos. O que pensamos e sentimos reverbera no nosso ambiente da mesma forma que nosso ambiente nos afeta. Saber olhar o que nos acontece e se perguntar o que a vida quer nos ensinar é aumentar nosso autoconhecimento e nossa sabedoria. E isso nem sempre é fácil, pois exige de nós a humildade e a coragem de olhar nossas fragilidades, rever crenças, transformar padrões, o que, de fato, é um processo de toda uma vida, um passo de cada vez. E a cada vitória sobre nós mesmos, há que se comemorar e acreditar que se investirmos nesse processo podemos gerar transformações. Isso é resiliência. Como nos diz Drummond em seu belíssimo poema “O homem e as viagens”, a viagem mais difícil é a de si para si mesmo:
      pôr o pé no chão
      do seu coração
      experimentar
      colonizar
      civilizar
      humanizar
      o homem
      descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
      a perene, insuspeitada alegria
      de con-viver.

      Grande abraço carinhoso

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